O Xadrez e a Música

quarta-feira, maio 30, 2007

JOGOS FLORAIS DA PRIMAVERA
SETÚBAL - ABRIL DE 1941

Depois de, durante várias semanas, ter sido aqui publicada a peça de Teatro de meu Pai, "O Filtro d´Amôr", perguntar-se-ão os poucos que tenham tido o tempo e a paciência de a ler, o que sucedeu à dita peça - terá sido representada?

Infelizmente, não chegou a sê-lo. Chegou, sim, a ser lida em voz alta pelo Autor - meu Pai - no Teatro Luísa Todi, perante, entre outros, o Director do Teatro e o Maestro e Pianista Idalino Cabecinha (na família Cabecinha, na altura, existiam cinco irmãos, dos quais 3 eram músicos - Idalino era Compositor, Pianista e Maestro do Orfeão de Estremoz; Idalécio era Violinista, tendo tirado o Curso Superior de Violino e fazia parte de um terceto que tocava num navio que fazia as carreiras de África; Idaleciano era também Violinista e Fotógrafo; o pai destes, José Pinto Cabecinha era Pianista, Compositor e Fotógrafo).

Voltando à peça "Filtro d´Amôr", meu Pai, então, concorreu com ela, na modalidade "Teatro" aos Jogos Florais da Primavera de Setúbal em 1941. Também concorreu nas modalidades de Soneto - com o Soneto "Redenção", Poesia a Mote - "Tanta dôr tanto tormento, Na saüdade que me mata", Poesia Infantil e Quadras Popular e Humorística. Foi o concorrente mais premiado tendo alcançado três 1ºs prémios em Teatro, Poesia a Mote e Poesia Infantil e três Menções Honrosas em Soneto, Quadra Popular e Quadra Humorística.

A seguir podem ver a página (teve de ser "cortada" ao meio) de "O Setubalense" de 21 de Abril de 1941, onde se fez a cobertura muito pormenorizada da Sessão Solene, realizada na noite de 19 de Abril anterior, um Sábado, na sede da Sociedade Musical Capricho Setubalense.

Sublinhei as participações de meu Pai assim como uma ou outra peripécia mais relevante, como "No fim, dansou-se."...


Página 2 de "O Setubalense" de 21 de Abril de 1941

Foto da mesa do Júri e dos premiados, podendo reconhecer-se

(alguns dos nomes foram deduzidos da notícia do jornal e lembremo-nos que se estava em pleno Estado Novo... dos outros premiados, além do seu grande Amigo, já falecido, Alberto Fialho Jr., meu Pai não se recorda quem era quem, mas os seus nomes constam da notícia d´ "O Setubalense").


1 - Cap. Correia Gonçalves, subdelegado da M.P. e Comandante da G.N.R..

2 - Representante do Comandante da L.P..

3 - Eng.º Carlos Manitto Torres, grande vulto Setubalense.

4 - Dr. Pires de Lima, Presidente da Câmara Municipal de Setúbal.

5 - Eng.º Armando Medeiros, Prof. de Matemática e Desenho de meu Pai no antigo Liceu Bocage.

...

12 - Dr. Alberto Fialho Jr., que depois se formou em Letras, grande amigo de meu Pai e grande Setubalense.

...

14 - Rui Nascimento, meu Pai.
...


Caso algum Setubalense (ou não!) se recorde destes Jogos Florais ou reconhecer mais alguém na foto, agradecemos que deixe um comentário!

segunda-feira, maio 07, 2007

FILTRO D´AMÔR (FINAL)


O Final da Opereta no Teatro Folias Brejeiras vendo-se os dois felizes pares Carlos-Isabel e Júlio-Lúcia



2º QUADRO


A cena representa um palco visto dos bastidores para a ribalta que está iluminada ao fundo, deixando aperceber a plateia do hipotético teatro, onde se está representando o final da Opereta (++ ou Ópera, a escolher), com a indumentária e música próprias.


O Manivela numa das suas inúmeras tarefas...


CENA XIII

Carlos, Isabel, Júlio, Lúcia, Procópio, Hilário, Manivela, Basalicão e Figurantes

Carlos (após ter cantado com Isabel o final da Opereta) - Não sei o que mais admire, Isabel, se o seu bom coração acedendo a cantar, se a sua voz que me deixou maravilhado.
Isabel - O Sr. Carlos exagera…
Carlos – Não, digo a verdade. E depois de ter feito justiça às suas boas qualidades, sua voz admirável, ainda há outra verdade...
Isabel (interrompendo) - Olha a Lúcia e o Júlio... (Lúcia entrando com Júlio) - Parabéns, Carlos. (Voltando-se para Isabel) - Também a felicito e agradeço tudo quanto fez.
Isabel - Não tem de quê. Mas já está boa?
Lúcia - Olhe, foi o seu primo. Foi um remédio milagroso.
Procópio (entrando pela direita com Basalicão e abrindo alas) - Deixem passar a família!
Hilário (entrando pelo outro lado, com Manivela, com um ramo de flores em cada mão) - Deixem passar a publicidade! (Procópio e Hilário esbarram ao meio da cena).
Procópio (faz gestos ameaçadores).
Hilário – Oiça-me, Sr. Procópio (mete-lhe um ramo de flores em cada mão).
Procópio (gesticulando com as flores) – Então você ainda me aparece novamente?
Hilário – Prometo-lhe que amanhã lhe levo lá à loja um camião cheio de Música Séria, Música com M grande. E não me há-de esquecer a Marcha Nupcial do Lohengrin!
Procópio – A Marcha Nupcial para quê?
Hilário – Então não vê que deve fazer falta? (indica os pares Isabel-Carlos e Lúcia-Júlio).
Procópio – Mas, afinal…
Hilário (tira um ramo de flores a Procópio) – Com licença. (Vai oferecê-lo a Isabel) – Minha Senhora, ofereço-lhe o ramo presente pela suas felicidades futuras.
Manivela (tira outro ramo de flores a Procópio) – Com licença. (Vai oferecê-lo a Lúcia) – Minha Senhora, o ramo presente é indicativo da minha admiração e o futuro… perfeito… a si pertence. (Para Hilário e pondo um dedo na testa) – Então saiu ou não saiu uma frase bombástica?!
Basalicão (para Procópio) – Olhe, finalmente estamos todos em sua casa.
Procópio – Têm-me entrado em casa e não é pouco...
Basalicão – Todos em sua casa, quero eu dizer, todos em Boa Harmonia!
Procópio – Antes assim, mas oiça lá, você é que é o inventor do tal Gargantol?
Basalicão – Modéstia à parte, é uma fórmula minha...
Procópio – Pois deixe de ser boticário e meta-se a alcoviteiro que é para o que você tem jeito!
Basalicão – Com efeito, pelo que se vê, são casamentos aos pares. Está visto que de tanto filtrar a droga, acabei por manipular um Filtro d´Amôr!!!

(Para finalizar, pode seguir um coro com motivos sobre a Marcha Nupcial de Lohengrin)
CAI O PANO



Carlos e Isabel ensaiando com o Júlio Perfeito

terça-feira, maio 01, 2007

FILTRO D´AMÔR (PARTE VI)


Isabel ouvindo a Valsa da Sedução







Anúncio da loja A Rabeca Mágica,

representada pelo Hilário Hilariante

* * * * * *


CENA XII

Manivela e Hilário

Manivela (entrando com Hilário pelo F.E.) - Esta só pelo diabo; tudo tão bem combinado e falha. Se o meu patrão tem deixado a chave, estávamos bem arranjados (dirige-se à gaveta onde tinha guardado o segundo frasco).
Hilário - E esse remédio dará resultado?
Manivela - Ao papagaio deu, mas olhe, eu já nem sei…
Hilário - Não sabe?
Manivela (enquanto vai abrindo a gaveta) - Sei! Dá resultado, com certeza… (procurando o frasco sem o encontrar) - Afinal não sei...
Hilário (furioso) - Sabe ou não sabe, com mil diabos?!
Manivela - Não sei mas é onde está o maldito frasco. Eu tinha-o guardado aqui.
Hilário (correndo a ver) – O quê? Não sabe do remédio? (remexem a gaveta).
Manivela - Nada, evaporou-se! Frasco, líquido, tudo desapareceu.
Hilário (pondo as mãos na cabeça) - Desapareceu o líquido e eu sou um homem liquidado. Maldita a hora em que entrei nesta casa, o Santuário da Música, como dizia o Procópio Profundo. Profundo, Profundo, p´ró fundo do Inferno é que ele devia ir. E você, seu Manivela, que me meteu neste sarilho, agora o que é que resolve?
Manivela - Eu é que meti? Você é que é o culpado. Para que é que em vez de dar aquilo a beber ao Carlos, deu à Lúcia?
Hilário (desalentado) - Nem sei como foi; uma confusão de copos. E a Lúcia quando se viu sem voz… o que vale é que quase não se ouvia. Mas deitava cada olho…
Manivela - E o Júlio quando souber, nem me quero lembrar.
Hilário – E logo desapareceu esse maldito remédio que você disse ter cá na loja.
Manivela - Tinha, tinha, mas então… tenho estado a pensar que foi o Júlio que o fez desaparecer.
Hilário – E se o Basalicão fizesse uma pinga num instante?
Manivela – Qual quê! Aquilo só a filtrar leva quase um dia.
Hilário (vendo as horas) - Bonito: Já não falta muito para ser a vez da Lúcia. Tem que se ir dizer que o soprano emudeceu. Vamos ter com o Júlio, pode ser que ele nos dê o frasco salvador.
Manivela - Sim, ele é que ficou sozinho cá na loja. Já tinham saído o Patrão e a Menina... espere... uma ideia.
Hilário - O quê? Mais ideias? O que nós precisamos é do remédio.
Manivela - Pois é o remédio a filha do Patrão!
Hilário – É farmacêutica?
Manivela - Qual farmacêutica! O que vai é cantar a parte da Lúcia. (pondo um dedo na testa) - Então saiu ou não saiu uma boa ideia?!
Hilário - Óptimo. E ela quererá ir substituir a outra depois das desfeitas que lhe fizeram?
Manivela (desalentado) - É verdade! Não me tinha lembrado disso.
Hilário - Mau! Mau!!!
Manivela (resoluto) - Vamos ter com a Isabelinha. Ela não é de reservas. Falamos-lhe ao coração. Se conseguirmos que cante estamos salvos!
Hilário - E o Procópio deixará? Se consentir, faço as pazes com ele.
Manivela - O meu patrão?! Ora, em se tratando de música séria...
Hilário - Oxalá. Mas eu juro que em questões de música séria, nunca mais me meto, nem mesmo a brincar. (Saem pelo F. E.)

(Mutação às escuras)