O Xadrez e a Música

sábado, junho 23, 2007

LISBOA EM FESTA...
HÁ 40 ANOS

Amigos:

Tendo-me sido completamente impossível pelo Santo António e apesar de já estarmos no São João, publico hoje esta Obra de meu Pai - uma Marcha concorrente à Grande Marcha de Lisboa de 1967, e que foi preterida por o Autor não ser da “cor” dos dirigentes da época…











LISBOA EM FESTA

Obra concorrente
à Grande Marcha de Lisboa 1967

Pseudónimo “Hilário”


Vem ver a Marcha toda a Cidade
e os bairros passam cantando à porfia.
Grita “presente!”, ó mocidade
e vem cantar e vem bailar, vem p´rà folia!
Enlaça flores,
fala d´Amores,
que nesta Marcha traz Lisboa o coração…
A subir p´rà Lua,
se um balão fluctua,
reza com ternura esta oração:

Ó meu balão voa, voa,
sobe à toa,
e às estrelas multicores,
Luz divina a arder nos Céus,
leva um beijo de Lisboa
e pede p´ra seus amores
a benção da Mãe de Deus!

Ergam os arcos, soltem balões,
e siga a Marcha, que a noite está bela;
olhem no alto: cintilações…
será acaso o meu balão, será uma estrela ?!
E os namorados,
muito abraçados,
ai, trocam juras e suspiros d´emoção…
numa curta prece,
Lisboa adormece,
e ao longe ainda há ecos da canção:

Ó meu balão voa, voa,
sobe à toa,
e às estrelas multicores,
Luz divina a arder nos Céus,
leva um beijo de Lisboa
e pede p´ra seus amores
a benção da Mãe de Deus!

***

Letra: Rui Nascimento

Música:
Melodia: Rui Nascimento;
Harmonização: Maestro Idalino Cabecinha

O número 82 que se vê, a vermelho, na partitura, ao alto à direita, foi atribuído pelo Júri que recebia as obras concorrentes, o que dá ideia do elevado número das mesmas.
Uma alta patente militar, cujo nome não recordo, era o Presidente da C.M.L. e do Júri do Concurso.
Provavelmente, esta Marcha teria tido probabilidades de ter ganho o Concurso das Marchas nesse ano, pois o sobrescrito com a identidade do vencedor só podia ser aberto depois de atribuído o Prémio. Ora quando tudo me foi devolvido, o sobrescrito - com o pseudónimo e a minha identificação - estava aberto!
Torna-se evidente, que foi aberto porque a Marcha despertou algum interesse… mas foi preterida, pois quem abriu o sobrescrito viu que eu não era da cor do regime da época. Invoquei o Regulamento da Marcha de Lisboa, que apenas permitia a abertura do sobrescrito da obra vencedora e alguém me avisou “Tem cuidado, senão ainda te põem a PIDE à perna…” * R.N.

quinta-feira, junho 14, 2007

Lanche Musical do 93º Aniversário do Mestre










Instantâneos de um pequeno lanche... apenas o Mestre, a Tia Ju (irmã de minha Mãe) e eu. No fim, depois de soprada a vela com energia de 39... sai do violino uma velha canção francesa dos anos 40, "Un Jour, je te Dirai" ...




93 ANOS de RUI NASCIMENTO

A meu Pai, que hoje completa 93 anos, dediquei, aquando do seu 90º Aniversário, estas rimas, já publicadas no meu Jardim, o ano passado. Por falta de tempo e também para quem não leu o ano passado, aqui são republicadas hoje no Quintal.



Neste dia memorável,
perante nobre assembleia,
ocorreu à filha a ideia
de rimar ao pai amável,



que ao Xadrez tem dedicado,
principalmente, a existência;
mas também, com excelência,
noutras Artes é versado.



O Problema de Xadrez,
p´ra ele não tem segredo.
Compõe, sem dúvida ou medo,
mates em dois e em três.


Problemas figurativos,
tecendo belas imagens,
dedicou a personagens
ilustres, mortos ou vivos.



A concursos variados
apresenta seu trabalho
e, sempre sem enxovalho,
fica bem classificado.

Mas se a Musa do Xadrez
foi a que mais o inspirou,
as outras, que cultivou,
não deixou em pequenez.

De Erato, melodiosa,
aprendeu, sem desatino,
a arrancar do violino,
tango ou valsa primorosa...


A mesma Musa formosa,
o inspirou na Poesia:
num repente e com mestria,
verseja com mote e glosa.


Dos livros é grande amigo,
quer versem Arte ou Ciência,
e na arte da eloquência
não passa despercebido.


Grande leitor de jornais,
das Letras grande amador,
chegou a dizer, de cór,
“A Ceia dos Cardeais”!...


Às mais exactas Ciências,
com afinco se aplicou,
e também não desprezou,
dos astros, as refulgências!


De Arquimedes às Ideias,
ou de Einstein às Teorias,
dedicou noites e dias,
desenredando essas teias...



Do Tempo leva vitória,
os cometas observou...
E, de Vénus, contemplou
a apolínea trajectória! (*)



Os amigos dedicados
nunca da memória tira...
por Damião de Odemira,(**)
os traz, sempre, convocados!



Já longo é o seu trajecto,
mas não se dá por vencido...
amanhã, ao sol nascido,
já ensaia outro projecto!


Da Razão, Justiça e Bem
Paladino se tornou,
Esposo amável se mostrou,
Pai muito amigo também;
histórias conta mil e cem
que a todo o que escuta encantam...
Noventa e três “já cá cantam”...
Cá estaremos para os Cem!!! (***)

X C I I I em M M V I I

* * *

(*) - O trânsito de Vénus.
(**) - A Tertúlia "Damião de Odemira", de que foi fundador.
(***) - Pelo menos!




Ao Violino, seu 2º Hobby:
- Señor Comisario (tango)
- Samaritana (fado) - Adiós, Pampa Mía (tango)

sexta-feira, junho 01, 2007

Dia da Criança

Rui Nascimento aos 13 meses (1915)



Mamã, vem cá à janela,
ver uma fita amarela
ali no céu, tão bonita!
Agora é verde, também,
encarnada, azul; ó Mãe,
o que é aquela fita?

Aquilo… a Mamã já conta:
havia uma velha tonta,
uma bruxa bem perigosa.
Co´ as mais belas cores pintou
um grande arco e disfarçou
sua gruta tenebrosa.

Com aparências tão boas,
enganou muitas pessoas
que lá se foram perder.
Das coisas, vê bem, meu filho,
a quem se fia no brilho,
tudo pode acontecer!

Está bem, Mãezinha, eu entendo…
e agora compreendo:
A Titi velha também
pinta as unhas de encarnado
e traz o cabelo pintado
para ver se engana alguém!


Rui C. Nascimento


(Jogos Florais da Primavera, Setúbal – 1941)

Premiada com o 1º Prémio - «Malmequer de Prata»


Sunrise, Sunset