O Xadrez e a Música

terça-feira, março 27, 2007

FILTRO D´AMÔR
(PARTE I)

Filtro d´Amôr

Caros amigos, hoje, Dia Mundial do Teatro, inicio a publicação da comédia musicada "Filtro d´Amôr", escrita por meu Pai em 1941. Dado o muito mau estado do original, dactilografado e do qual podem ver as primeiras páginas, estou a escrevê-lo de raiz no WORD. Também estou a utilizar a Ortografia actual, nomeadamente retirando bastantes acentos circunflexos, pois nesse tempo até AMÔR o levava... bons tempos!!! Já não há AMÔR como o de antigamente... e muito menos Filtros que o favoreçam ;)... - Aspásia.

AS 5 PRIMEIRAS FOLHAS
DO ORIGINAL









FILTRO D´AMOR

Comédia Musicada

1 ACTO e 2 QUADROS



Original de

FRADIQUE


(Rui Nascimento)

SETÚBAL, 1941

* * * * * *


PERSONAGENS


PROCÓPIO PROFUNDO − Velho baixo de Ópera, dono da loja “A Boa Harmonia”.

ISABEL − Filha de Procópio.

CARLOS SALDANHA − Tenor (Galã).

JÚLIO PERFEITO − Sobrinho de Procópio.

LÚCIA DE LIMA − Rival de Isabel.

MANIVELA (ARTUR) − Empregado de Procópio.

HILÁRIO HILARIANTE − Caixeiro viajante de músicas.

BAZALICÃO − Boticário.

PINOCCHIO, O PAPAGAIO − Ave canora e falante. (Personagem de bastidor)
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FIGURANTES.

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ANOS 40 DO SÉC. XX

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TODOS OS PERSONAGENS DESTA PEÇA SÃO PURAMENTE IMAGINÁRIOS, E QUALQUER SEMELHANÇA QUE PORVENTURA POSSAM TER COM ENTES REAIS DEVE SER TOMADA COMO COINCIDÊNCIA FORTUITA.

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ACTO ÚNICO

1º Quadro

No interior da loja “A Boa Harmonia”, casa de artigos de música. No fundo, à esquerda, há uma porta para a rua; à direita uma montra. À D.A. um pequeno balcão e à D.B. a porta de comunicação da loja com a habitação. Cadeiras, instrumentos, livros e músicas. Um pequeno móvel com uma grafonola e discos espalhados.

CENA I

Isabel, Carlos, Lúcia, depois Manivela.

Ao levantar o pano, Lúcia está sentada, Carlos encostado ao balcão e Isabel junto à grafonola que está acabando de tocar uma ária pretensiosa.


Isabel (depois de a grafonola se ter calado) − Como achou este número, Senhor Carlos ?
Carlos - Gostei bastante. E a Lúcia ?
Lúcia (desdenhosa) - Não gostei, nem desgostei... banal...
Carlos (conciliador) — Não me pareceu de todo mal...
Lúcia – Já se sabe que você tem o gosto estragado.
Carlos (aproximando-se) - Não em tudo, Lúcia, acredite-me...

(Isabel desvia a vista, magoada pelo interesse que Carlos parece ter por Lúcia).

Lúcia - Ora... ora...
Manivela (entrando pela porta da rua, às arrecuas, e falando para fora) - Então não se esqueça do meu pedido, amigo Basalicão… obrigado (reparando na freguesia e para Isabel) - Porque não me chamou, menina Isabel ? Eu tinha atendido.
(Para os fregueses) - Então já escolheram ? E que mais há-de ser?
Lúcia - Afinal não nos agradou nenhum dos discos. Decididamente tudo o que há nesta casa é muito banal, muito fora de moda...
Manivela - Ó minha rica Senhora, desde que V.ª Ex.ª. aqui entrou, nem tudo está fora de moda....
Carlos - Ora a Lúcia tem coisas… também não sei o que lhe agrada. Corremos já três ou quatro estabelecimentos e não se resolve a comprar.
Lúcia - Se o Carlos. está aborrecido... eu não lhe pedi para me acompanhar...
Carlos – Não, isso sim… Bem sabe que tenho sempre muito prazer em lhe fazer companhia.
Manivela – Mas minha Senhora, tenho ainda aqui uma canção…
Lúcia (interrompendo) – Não se incomode. De resto (vendo as horas) já é tarde… (para Carlos) Eu vou para casa, Carlos.
Carlos – Se me permite, vou acompanhá-la.

(Saem ambos. Lúcia sem dizer adeus; Carlos baixa a cabeça a Isabel).


CENA II

Manivela e Isabel

Manivela – Uf! Freguesia desta… (para Isabel) A menina Isabel não diz nada? isso é que a perde. Ouve, ouve, ouve, e muda como um penedo. Veja essa tal Lúcia! Aquilo é um chalrear. E sempre desdenhosa e presumida. A toleirona julga-se superior. Mas é com todo aquele fogo de vista que se faz notar e tem mais de um pretendente. O Carlos, esse então está mesmo pelo beicinho. Não vê outra coisa… (intencional) e coisas que valem muito mais…
Isabel – Ó Artur, lá começas tu. Deixa lá… então, ele gosta dela…
Manivela – Deixa lá, não! Que não gosto de ver a menina andar triste. Ou não fosse eu empregado de seu pai já há perto de 15 anos, conhecendo-a a si desde pequenina. (pausa) Ele gosta dela? Ele é um palerma (gesto contrariado de Isabel). Um palerma, sim senhora. (Isabel amua) – (Aparte) Ó Diabo, lá amuou. (Alto) Um palerma é modo de dizer… ele é muito bom rapaz… e tem uma linda voz.
Isabel (contente) – Pois não tem? E é tão simpático, tão insinuante… (caindo em si) Ora, lá estou eu a divagar…
Manivela – Deixe lá que os sonhos às vezes tornam-se realidades.
Isabel (encolhendo os ombros) – Isto para mim nunca passará dum sonho…

(Isabel canta uma canção de amor. Manivela fica embasbacado a ouvir).


O MEU PRÍNCIPE

(Canção de amor)


Num certo conto de fadas
e de moiras encantadas,
um jovem Príncipe havia.
Quando ouvia essa quimera,
´inda pequenina eu era,
era a ele a quem mais queria.

Tinha todo o meu afecto,
era o meu amor secreto
que eu não contava a ninguém.
Eram sonhos de criança,
não cheguei a ter a esperança
que ele existisse também.

Mas quando um dia te vi,
o meu Príncipe esqueci
e dei-te o meu coração.
Tu nem em mim reparaste
e indiferente passaste,
sem ver a minha paixão.

Quis voltar ao antigo amor,
mas ai!... já não tem sabor
a velha história esquecida!
O sonho de amor de então,
não passava de ilusão…
Só tu p´ra mim és a vida!

Manivela (quando Isabel se calou) - Consigo é que o Carlos fazia um dueto bonito.
Isabel – Lisonjeiro! (retirando-se) Olha, até logo. E agora não vás badalar isto! É segredo entre os dois. (Sai pela D.B.)

(Continua...)

PS - Aceitam-se inscrições para o personagem de bastidor Pinocchio, o Papagaio. Se, por outro lado detectarem Gralhas... digam nos comentários, s.f.f.!

quarta-feira, março 14, 2007

CANÇÃO DA AMIZADE

Amizade
Sempre,
a Amizade seja Lei,
sem qualquer decreto,
nem legislação.
Seja um sentir concreto,
de ideais repleto,
voz do coração.

Tenha
o querer entusiástico,
dominadôr, orgástico,
tal qual nova paixão.

Assim eu quero,
sinceramente espero,
que a Vida tenha um toque de ternura;
braços abrir possamos à Ventura,
Oh, Amizade,
és Amor sincero!


Canção da Amizade - Música


Letra e Música de Rui Nascimento


19 Maio/2002