FILTRO D´AMÔR (PARTE III)
CENA V
Manivela, depois Hilário, no fim Basalicão
Manivela - E é que vou mesmo dar à manivela. (Põe-se a dar corda à grafonola e a tocar um disco. Senta-se pensativo)
Hilário (Entrando pelo F.E. com uma grande pasta e um maior à-vontade). Muito bons dias, meu caro senhor.
Manivela (Parando a grafonola e Aparte) - Lá vem este interromper-me a cogitação. (Alto) - Passou bem?
Hilário - Permita-me V. Ex.ª, que me apresente (Estende um cartão de visita, tipo comercial)
Manivela (Lendo) - Hilário Hilariante, representante da Rabeca Mágica.
Hilário - Tal qual. E venho, em nome dessa importante empresa, apresentar-lhe as nossas últimas edições. Sucessos, só sucessos. (Vai abrindo a pasta e tirando músicas) - Ora tenha a bondade de ver.
Manivela – Mas, meu caro senhor...
Hilário (Atalhando rápido) - Perdão, queira V. Ex.ª. apreciar: (Lendo os tftulos das músicas) - A Dança dos Gansos, Balalaika, Canção do Tiro-Liro, Argentina... A novidade dos nossos produtos atinge o mais alto da escala e, quanto a preços, pode V.Ex.ª ficar certo de que transportamos sempre uma Oitava abaixo.
Manivela - Não digo que não, mas...
Hilário (interrompendo) - Portanto pode V. Ex.ª. escolher sem receio...
Manivela (que várias vezes tem tentado falar sem resultado, solta um berro) - Oohh!!!
Hilário (cala-se de súbito.)
Manivela - O que me admira é que você sendo caixeiro viajante de músicas, não sabe o que é uma pausa.
Hilário - Então não sei? Eu...
Manivela (Interrompendo por sua vez) - Então se sabe, faça uma. E pode ser mesmo a pausa final. Eu não sou o dono da casa.
Hilário (Sem fazer reparo) - Folgo muito, folgo muito... (Caindo em si, de súbito) - Não é o dono... porque não disse você isso logo?
Manivela - Você não me deixou. Estava a falar a solo.
Hilário - E você não está autorizado a comprar?
Manivela (Abana negativamente a cabeça.)
Hilário (Coçando a cabeça, faz uma pausa. Depois com uma determinação rápida) Pois então faça uma coisa. Exponha uns números destes na montra. Isto é sem compromisso. E não se dirá que foi em vão que visitou esta casa Hilário Hilariante, representante da Rabeca Mágica e Chefe da Secção de Publicidade do Teatro Folias Brejeiras.
Manivela (Subitamente inspirado) - O senhor disse do Teatro Folias Brejeiras ?
Hilário - Com muita honra.
Manivela (Como se lhe tivesse saído a sorte grande) - Pois amigo Hilariante, estimo muito conhecê-lo! (Estende-lhe a mão)
Hilário (Apertando a mão do outro) - Como passou? E a família como está? Sua esposa ?
Manivela - Eu sou solteiro.
Hilário - Ah, desculpe. (Silêncio) - Mas de que estávamos nós a falar?
Manivela (Muito sério) - Como tive a honra de lhe dizer, tenho muito prazer em travar conhecimento consigo. (Apresentando-se) Eu sou Artur Manivela.
Hilário (Ouvindo mal) - O senhor disse Artur...
Manivela - Manivela!!!
O Papagaio (dos bastidores) - Ó Maniveeeeela!!! (prolongando a sílaba "ve")
Hilário (Surpreendido) - Ainda não tinha dado por tal, mas parece-me que esta casa tem uma certa ressonância.
Manivela - Tem, tem… mas agora que nos conhecemos…
Hilário - Eu sou Hilário...
O Papagaio (dos bastidores, interrompendo) – Ó boticáááário!!! (Prolongando a sílaba cá)
Hilário (Olhando em redor, desconfiado) – É extraordinário...
Manivela - Não dê ouvidos. É um papagaio. Quando lhe apetece, vá de chamar-me e ao farmacêutico ali da frente. É uma seca.
Hilário - Bom. bom. Mas íamos nós dizendo...
Manivela – Não é no teatro Folias Brejeiras que hoje canta o Carlos Saldanha?
Hilário - Pois é. Não viu os programas?
Manivela (Decidido) - Vi sim. É preciso que ele não cante e conto consigo.
Hilário - Para cantar?
Manivela – Não. Para o impedir de cantar a ele. E prometo-lhe que a casa lhe compra as suas novidades. Olhe já aqui as vou pôr na montra. (Leva as músicas para a montra).
Hilário (abanando a cabeça negativamente) - Nada, não pode ser. Era um descrédito para a empresa. Um sarau de gala, vão entidades oficiais, diplomatas, a nossa primeira sociedade... Não pode deixar de realizar-se o espectáculo.
Manivela - Mas quem lhe diz que não se realiza ??
Hilário - Sem Tenor?
Manivela - Arranjava-se outro. Ia o Júlio Perfeito. Não conhece ?
Hilário - Tenho ouvido falar. Mas será ele tão bom como o Carlos?
Manivela (Aparte) - Aí é que a porca torce o rabo. (Alto) É, é,...diz ele.
Hilário - Hein ?
Manivela -Digo que sobre esse assunto não tenha receio.É até melhor.
Hilário - E ele saberá o papel que tem de desempenhar?
Manivela (Sorridente) - Na ponta dos dedos. (Preocupado) O ponto lá do teatro é bom ?
Hilário - Um ponto... de exclamação, meu amigo!!!
Manivela - Então não há novidade.
Hilário - E as musicazinhas ficam ?
Manivela - Negócio arrumado.
Hilário - Pois estamos de acordo. O Carlos não canta.(Pausa) Mas não canta porquê ?
Manivela (Após um silêncio) - É verdade, ainda não se arranjou maneira de impedir... Puxe você também pela mioleira, seu Hilário.
(Ficam ambos pensativos)
Hilário - Não há maneira...
Manivela - Puxe, puxe...
Hilário (Sorridente) - Ah…
Manivela - O que é, o que é?
Hilário (Vai a dizer mas... compungido) - Esqueci-me…
Manivela (Faz um gesto contrariado. Outro silêncio. )
O Papagaio – Ó Manivela !
Manivela (Súbito) - Eureka !
Hilário - Agarre, agarre!
Manivela- Já agarrei e estamos salvos, Salvos pelo papagaio.
Hilário - O quê ? Vai cantar o papagaio ?
Manivela - Nada, nada. É que eu quando quero que o maldito papagaio se não ouça, dou-lhe um remediozinho que me fornece ali o Basalicão. Fica rouco para mais de três dias. Fazemos o Carlos tomar uma pinga e pronto. (Apontando a própria cabeça) Então saiu ou não saiu?!
Hilário - Pois saiu. Mas isso não será veneno? Não poderá tirar a voz ao rapaz ?
Manivela - Isso sim, pergunte ali ao Basalicão. (Mexendo na garganta) O mal é temporário e também tenho outro remédio que faz a voz voltar quase instantaneamente. É o que dou ao bicho quando a dona me ameaça com a polícia.
Hilário - Tenho as minhas dúvidas e hei-de informar-me com o Basalicão. Entretanto você jura-me que toda essa história não me mete em sarilhos?
Manivela (estendendo a mão) - Palavra de Manivela.
(Apertam as mãos e vão fazendo o movimento rotativo da manivela).
(Segue o terceto cómico)
Terceto Cómico
Manivela - Dando à manivela
vivo sem cuidados
Hilário - E eu sem mais aquela
impinjo os meus fados.
Ambos - Quando é fixe, a malta
faz um figurão
Manivela - Sabe quem cá falta?
Basalicão (entrando pelo F.E.) - O Basalicão.
Basalicão - Adoro a soneca
e os bons petiscos.
Manivela - E eu cá na lojeca
vou tocando discos.
Ambos - O nosso elixir
é extraordinário.
Basalicão - Quem rebenta a rir?
Hilário - É cá o Hilário.
Hilário - Não há quem me vença
na Publicidade.
Basalicão - Livro da doença
a Humanidade.
Ambos - Papagaio real,
que tens na goela?
Hilário - Fizeram-lhe mal...
Manivela - Foi o Manivela.
TODOS (Marcação própria -
Fazem roda - dois fazem
arco dando as mãos e
o outro passa por baixo.) -
Somos todos três
feitos de igual massa
passa tu uma vez...
repassa, perpassa.
(Fazem roda, acabando
por se abraçarem todos
três em cacho.)
Haja bródio e festa
saúde, alegria.
Seja manifesta
a Boa Harmonia!
(continua)
6 comentários:
E QUERIAS TU QUE EU FOSSE O PAPAGAIO!!!ONDE IRIA ARRANJAR FÔLEGO PARA VEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEECER O CANSAÇO???
E QUANDO CONTINUA?????
OH MINHA RICA... TU ÉS INSACIÁVEL!!!
ENTÃO ISTO É COMO AS NOVELAS DO TIDE DA RADIO CLUBE PORTUGUÊS...
2 EPISÓDIOS POR SEMANA! QDO MUITO QUE EU NÃO FAÇO SÓ ISTO...ENTAO NAO VES QUE TENHO DE FAZER MONTES DE EMENDAS NAS PAGINAS DIGITALIZADAS PARA O WORD, PQ OS ORIGINAIS ESTAVAM JA MUITO VELHINHOS... A DIGITALIZAÇAO COMO TEXTO DEU 1 ERRO EM CADA 5 LETRAS...
ACABEI DE VER A KIKA LA NA PAH E JA LA DEI OS PARABENS, REPITO AQUI...
ISSO FOI UMA GRANDE OBRA! UMA OBRA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS...
EU NÃO POSSO C GENTE Q TRATA MAL OS ANIMAIS,AS CRIANÇAS,OS INDEFESOS EM GERAL..., É O PIOR TRAÇO DE CARACTER QUE EXISET - A COBARDIA QUE CONDUZ FACILMENTE A CRIMES PIORES...
ENTAO JA FOSTE AO FLAUTA DE PÂ OUVIR OS RAGTIMES? A RITA QUEIXOU SE Q NAO OUVIU...
BJINHOS, EM PRINCIPIO VOU VER LOGO O PIANISSIMO...
MAU, MAU MARIA! ATÃO A IMIXORA NUM PAXA MAIS TIARTO??
BOU MUDARE DE EMIXORA...
LENA
TENHO TIDO MUITAS BUROCRACIAS A RESOLVER...TENHO ANDADO POR CARTORIOS, NOTARIOS FINANÇAS, POR CAUSA DE UMA POUPANÇA QUE MINHA MAE DEIXOU NUM BAMCO E DE Q SE PERDEU O TALAO OU COMPROVATIVO- NAO É MTO GANDE SAO 500 CONTOS, MAS JA EXCEDIA O VALOR PARA PODERMOS LEVANTAR SEM HABILITAÇÃO DE HERDEIROS..
ENTAO FOI SE ADIANDO... MAS AGORA TEM MESMO DE FAZER SE... É CERTIDOES DE TUDO E AINDA POR CIMA O MEI PAI TEVE SE RENOVAR O BI POR CAUSA DO ESATDO CIVIL - VIUVO, AINDA LA ESTAVA "CASADO".
OLHA PAPELADAS Q ME PARECE Q SO HA NESTE PAIS... COM OS FERIADOS HA 2 SEMANAS Q ANDAMOS NISTO. E JA GASTAMOS NAIS DE 300 EUROS.
AGORA HOJE DIA 12 É UM DIA DE TRISTE RECORDAÇÃO... FAZ 5 ANOS Q MORREU A MINHA MÃE.
DE MODO Q AQUI A PEÇA, LÁ MAIS PARA O FIM DE SEMANA...
BEIJINHOS GRANDES.
A MORTE É A DOENÇA MAIS FATAL DA VIDA...
NÃO SOU A PESSOA INDICADA PARA TE ALEGRAR OU DIZER AS PALAVRAS CERTAS- NÃO AS CONHEÇO!!
MAS, HÁ TRUQUES A QUE EU RECORRO PARA ALIVIAR A TRISTEZA QUE ME INVADE: PENSO NO EPISÓDIO MAIS RIDÍCULO QUE JÁ VIVI...E NORMALMENTE RESULTA!
LENA
GRATA PELAS TUAS PALAVRAS.
INFELIZMENTE, ALÉM DA VIDA, A MINHA MÃE TEVE OUTRA DOENÇA FATAL QUE ACELEROU A PARTIDA...
AINDA ASSIM RESISTIU 5 ANOS , O MAXIMO PREVISTO PELA MEDICINA NO CASO DELA.
POIS HOJE SE FOSSE VIVA TERIA 86 ANOS e hoje em dia SERIA UMA IDADE AVANÇADA, MAS SE HOUVER ALGUMA SAÚDE ATE SE PODE IR MAIS LONGE, COMO O MEU PAI FELIZMENTE.
PASSA UM BOM DIA.
BEIJINHOS GRANDES.
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