O Xadrez e a Música

segunda-feira, abril 23, 2007

FILTRO D´AMÔR (PARTE V)


Procópio Profundo, o dono da loja A Boa Harmonia







* * * * * *


CENA IX

Isabel, Procópio, Manivela, Carlos e Figurantes


Carlos (entrando da rua com Figurantes meninas) - Como está, amigo Procópio? (apertam as mãos)
Figurante – Adeus, Sr. Manipanço.
Manivela - Manivela, Manivela.
Figurante - Desculpe. É tão parecido!
Manivela (levando a mão ao rosto) - Sou parecido…
Figurante – Não é o Sr.. O nome é que é.
Manivela - Pois em vez de Manivela o melhor é chamar-me Artur, que é a minha graça.
Carlos – Então, adeus ó Ártur.
Manivela - O Sr. Carlos traz hoje grande comitiva. Vão já para o Teatro ?
Carlos - Esperamos a Lúcia. Marcou o encontro para aqui.
Manivela (para Figurantes, em aparte ) - É só para fazer pirraça à Isabelinha.
Carlos - O Sr. Procópio não deixa de ir ao sarau...
Procópio - Os organizadores não foram muito gentis...
Isabel (atalhando) - Vamos, vamos, já temos os convites...
Manivela - Se o meu patrão não ia... ouvir a tal música séria, como ele diz, a mim é que não me interessa. Para mim, só o Fado!
Figurante - Aaaah, é fadista ?
Manivela (entusiasmado) - Se sou. Estas duas sílabas dizem tudo. (destacando) Fa...do. O Fa...do (vendo que Procópio está a olhar, finge que canta notas musicais) …fá… dó… lá… dó... sol...
Procópio – Pára lá com o solfejo e vai arrumando a loja que são horas de fechar.
Lúcia (entrando como um furacão) – Oh, Carlos, isto é que são horas? Farta de esperar que me fosse buscar a casa…
Carlos - Então a Lúcia não disse para virmos ter aqui ?
Lúcia - Eu? Está a sonhar…
Carlos (arreliado) - Ora essa. Quando nos despedimos não disse: Estamos todos na Boa Harmonia?! Boa Harmonia é o nome da loja do Sr. Procópio.
Lúcia (rindo) – Ai, que engraçado. Queria eu dizer que entre nós reinava a melhor harmonia. Boa Harmonia, isto ? Então você quer que um contrabaixo de filarmónica (aponta Procópio), uma corneta de comboio (aponta Isabel) e um berimbau sem palheta (aponta Manivela), formem alguma harmonia que preste ? (sai entre grandes risadas com as Figurantes) – Ah Ah Ah!!!...
Carlos (contrariado) - Desculpe, Sr. Procópio... a Lúcia excede-se por vezes. Ainda acabo por me zangar a sério com ela.
Procópio (muito sério) - Os insultos não nos atingiram. Deixe, Carlos, não se preocupe. Todos sabemos a falta que faz o chá. E aquela, apesar de Lúcia Lima, não sabe o que isso é. (Vai para a porta com Carlos, que sai).


CENA X

Isabel, Procópio, Manivela e Júlio


Júlio (entrando) – Então, Tio, houve questão com a Lúcia? Ela não é má pequena de todo.
Procópio (olhando de soslaio) - Ah não?! Pois guarda-a para ti. (Para Manivela) - Bom. São horas de fechar. Toma lá a chave. Se amanhã eu descer um pouco mais tarde, abres a loja. Até amanhã. (Para Júlio) - Tu não vens?
Júlio - Vou já, Tio.
Isabel - Até logo, Júlio. Adeus Manivela, até amanhã (saem Procópio e Isabel pela D. B.)
Júlio - Com que então o papagaio é que nos salvou, ahn?! Não o tenho ouvido.
Manivela - Aquilo a dona, assim que o apanhou curado, tirou-o logo para dentro. Sempre a mezinha fez efeito.
Júlio - Assim fizesse logo.
Manivela - Pode estar descansado. (Vai à gaveta do balcão e tira um frasco) - Aqui esta o remediozinho. E isto é a cura (mostra o outro frasco).
Júlio - Vê lá, não leves a cura em vez da doença.
Manivela - Isso sim, não vê o rótulo? (mostra)
Júlio – Gargantol I. Fixe.
Manivela – E este, Gargantol II, é que é a cura. Vai aqui para a gaveta. (mete-o na gaveta e guarda o outro na algibeira).
Júlio - Podes ir-te embora e fecha a porta. Eu já lá vou ter, ao Teatro, conforme combinei com o Hilário. Custou a convencer, o negregado...
Manivela - Ainda fica?
Júlio – Fico.
Manivela - Então até logo e afine essa goela.


CENA XI

Júlio


Júlio (monologando) - Ora se os planos não falham, o Carlos vai ter uma rabiada (rindo) - Ah, Ah, Ah. Mas tem que rabiar em silêncio. Destas só lembram ao Manivela. Mas se não é o tal Hilariante, não sei como seria a coisa. Mas assim, com amigos dentro da fortaleza… (vai à gaveta e tira o frasco) - Cá está o tal contra-veneno. É verdade, e o outro não será veneno? Ora, o papagaio tomou-o e não morreu. Ora se o Pinocchio escapou, também não morre o Carlos. O diabo é se o remédio ainda é fraco para ele. Goelas de papagaio é uma coisa, mas o Carlos que tem goelas de pato? (pausa) - O Manivela deve ter-se informado com o Basalicão. A esta hora já o Carlos deve ter a jeropiga no bucho. E ainda assim o Manivela se não arrependa, vou esconder o cura-mudos. (Sai pela D.B., levando o frasco do Gargantol II).

2 comentários:

Helena Velho disse...

Bendito Gargantol!
Ó Linda! o teu lindo pai é fantástico!É como te disse anteriormente: ao ler esta peça vejo um filme..e o Curado Ribeiro seria de certeza esse Carlos empertigado e a Milú(talvez) a Lúcia Lima(ão)!

ASPÁSIA disse...

LENA

OLHA Q UM XAROPE COMO O GARGANTOL I FAZIA CÁ MUITA FALTA NESTE PAÍS PARA DAR A MUITO PAPAGAIO Q AÍ ANDA A APREGOAR...

QTO AO GARGANTOL II - O CURA-MUDOS, DAVA- ME JEITO QDO ANDO COM LARINGITE... E PUNHA NO DESMPREGO MUITOS OTORRINOS...

HEI-DE VER SE PEÇO A FÓRMULA AO BASALICÃO!

BJINHOS AFINADOS...